Submissão Cultural

Uma das coisas mais patéticas na imprensa esportiva brasileira é o denodo com que procura saber se deve chamar times italianos no masculino ou no feminino.

É um tal de “a Juventus” ou “a Internazionale”, etc., sempre sob o pretexto de que os times italisnos são “associaziones”, ou associações, e, como tais, devem ser tratadas no feminino.

Em primeiro lugar, não é verdade. Há alguns times italianos que são “associaziones”, mas a maior parte deles não é.

Temos a Associazione Sportiva Roma, mas, por outro lado, “a Juventus” é na verdade o Juventus Football Club (assim mesmo, na grafia original inglesa).

O time que os jornais brasileiros insistem em chamar “a Inter” é simplesmente Football Club (novamente, na grafia inglesa) Intenazionale Milano.

Nem sempre a impensa brasileira teve tal preocupação.

Tudo comecou com o jornalista paulista descendente de italianos Sílvio Lancelotti, um colunista de gastronomia mas também comentarista de futebol, especializando-se na “Serie A”, a Primeira Divisão do campeonato italiano.

Com suas ligações culturais e familiares, ele sabia exatamente como “na velha Bota” (era assim que ele chamava Itália) as pesoas se referiam aos times.

Com o espírito de imitação típico do brasileiro (basta lembrar que tudo que se faz um dia nos Estados Unidos é copiado no dia seguinte no Brasil), começou na imprensa a mania de se querer advinhar se, por exemplo, um time chamado Venezia é masculino ou feminino na Itália.

(Acontece que é na verdade masculino: “Il Venezia”).

Outro dia perguntei a um jornalista adepto de tal macaquice: “mas como você sabe se um time assim ou outro assado deve ir para o masculino ou o feminino?'“

Ele respodeu-me, orgulhoso:

“Olho no Google”.

Antigamente não era assim. Antigamente, havia uma regra muito simples na imprensa brasileira: times que denotavam uma naturalidade (exemplo, Fiorentina, na Itália, ou Portuguesa, no Brasil) iam para o feminino. Os outros deviam ser chamados no masculino, como, no Brasil, sempre se disse “o Fortaleza”, ou “o Bahia”. No caso da Ferroviária, em São Paulo, ela é mesmo uma “associação”. Seu nome é Associação Ferroviária de Esportes.

Eu talvez seja o único jornalista esportivo brasileiro que ainda segue o bom senso - e continuarei a segui-lo. Mesmo porque os gêneros de artigos na Itália são bastante confusos. Você pode ter “Il” e “Lo’ no masculino, “La’ e “L’” no feminino e, no feminino plural, “Le”. Por exemplo, “Le Donne”, as mulheres.

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