Quando a Seleção era o “escrete nacional”
Lembro de muitas canções que, em 1958, saudaram a conquista pelo Brasil de seu primeiro Campeonato Mundial. Uma me ficou especialmente na memória. Sua letra dizia assim, em parte: Gilmar, De Sordi, Bellini; Zito, Orlando, Nílton Santos; Garrincha, Didi, Vavá, Pelé, Zagallo, eis o escrete nacional…
Há duas coisas interessantes a notar. A primeira é que a letra foi composta antes da final contra a Suécia. Por causa disso, a escalação falava em De Sordi, não em Djalma Santos.
Nílton de Sordi era um lateral direito do São Paulo, que participou de todos os jogos daquela Copa, com exceção do último. Foi aí que entrou Djalma Santos, da Portuguesa de Desportos, que, ao longo dos anos, se tornou muito mais famoso e foi titular absoluto na Copa seguinte, a de 1962, quando já era do Palmeiras.
A segunda observação é quanto ao trecho da letra que diz “escrete nacional”. Ela traz à lembrança o fato de que o futebol chegou ao Brasil através de compatriotas nossos, de origem britânica, que tinham ido estudar na Inglaterra. De lá eles trouxeram não apenas as bolas do jogo mas todo um vocabulário um tanto exótico aos ouvidos nacionais.
Foi assim que a expressão “scratch team” virou “escrete” por muitas e muitas décadas no futebol brasileiro, só depos vindo a ser substituída por Seleção, Selecão Nacional, Seleção Canarinho, etc.
Mas devemos notar que, no original inglês, a palavra “scratch” designava um time apanhado meio às pressas, de improviso, um grupo formado por jogadores de diversos clubes, sem serem necessariamente o melhor que podia ser recrutado no país.
Não era a ideia, que temos hoje, de reunir os melhores entre os melhores e submetê-los a um longo período de preparação para representar bem o país em uma Copa do Mundo.
Mas o fato é que aquele “escrete nacional” sem dúvida representou o Brasil muito bem, lá na Suécia.