O tempo passa…
O tempo passa…, dizia um antigo locutor esportivo. Mas passa devagar no futebol brasileiro.
Ao longo de décadas, conceitos e chavões têm sido repetidos à exaustão. Lembro-me de uma noite, no programa de análise esportiva da TV-Educativa do Rio de Janeiro, da qual eu fazia parte. Não quero dar a esta coluna uma nota fúnebre, mas ou estou muito enganado ou sou um dos dois únicos sobreviventes daquela “mesa redonda”. O outro é Luiz Orlando Baptista, bem mais moço do que eu.
Estávams na década de 70, já em sua segunda metade. O Brasil tinha ganho a Copa de 1970, mas tinha apenas chegado em quarto lugar na de 1974, depois de ser seguidamente derrotado pela Holanda e pela Polônia.
Um de nossos convidados era Carlos Alberto Torres, o “grande capitão” da vitoriasa Copa de 1970. E, lá pelas tantas, Carlos Alberto, que estava em vias de se transferir para o New York Cosmos, nos Estados Unidos, e viria a ser técnico de futebol, saiu-se com um chavão em voga no Brasil: “quem corre é a bola”.
Era um conceito tirado das crônicas do teatrólogo Nélson Rodrigues, grande criador de frases mas que nada entendia de futebol: ele dizia que os europeus tinham “saúde de vaca premiada” e dispunham de uma “velocidade burra”.
Segundo tal filosofia, o Brasil tinha posto os europeus “na roda” em 1970, obrigando-os a perseguir a bola em todos os cantos do gramado, enquanto nossos jogadores a faziam, inteligentemente, '“correr de pé em pé”.
Ao ouvir Carlos Alberto repetir o conceito, ousei perguntar: “e por que não correr a bola e os jogadores também”?
Este diálogo, amigos, ocorreu há 50 anos. Mas, ao ler os jornais brasileiros sobre a decisão da Taça Libertadores, agora em fins de 2025, constato que a noção ainda é discutida.
Como dizia o antigo locutor, “o tempo passa’”…