Como o JB jogou fora a Maratona do Rio

Em 1979 eu corri uma Maratona no Rio de Janeiro. Era organizada pela Printer, uma empresa de corridas de rua, e, ao disputá-la, conheci diversos participantes, como Pedro Stock e Ivanise Lins e Barros. Não tinha me preparado muito bem, mas completei a prova em cerca de 4h15min. Exausto, mas completei.

O imporante é o que veio a seguir. Conversei com diversos outros participantes e ficamos todos frustrados ao descobrir que a distância da prova tinha sido marcada com o odômetro de um carro.

Na época eu escrevia a coluna Campo Neutro no Jornal do Brasil. Comecei a me interessar mais pelo que já me parecia um fenômeno, o fenômeno das corridas de rua que se manifestava em muitos outros países e do qual o ponto principal era justamente a Maratona, com seus icônicos 42.195 metros e toda a tradição dos tempos da Grécia Antiga e o herói Feidipídes.

Conversa vai, conversa vem, com Pedro Stock, sua mulher Terezinha, Ivanise e seu marido Ricardo, fomos amadurecendo a ideia de que o Rio de Janeiro deveria ter uma Maratona com uma medicão de percurso rigorosa, a exemplo do que sabíamos ser feio em outros países.

O resultado é que acabei convidado pela empresa aérea Pan Am para ir à Maratona de Honolulu. no Havaí - o que fiz, mas apenas como observador. A idéia porém ficou em minha cabeça: a Maratona do Rio deveria ter uma dimensão maior, um percurso rigorosamente medido, a presença de grandes nomes do exterior.

Levei o assunto à direção do Jornal do Brasil, que topou. Apresentei a idéia também a Antônio Carlos de Almeida Braga, velho conhecido meu de campos de futebol e estádios olímpico. Ele imediatamente topou ser o patrocinador.

Hoje compreendo que faltava uma peça importante na equação: a força de uma empresa de televisão. O Jornal do Brasil há anos vinha tentando um canal de televisão, sem sucesso. O Globo tinha TV, mas eu não trabalhava no Globo…

Apesar de tudo, a Maratona Atlântica-Boavista, mais conhecida como Maratona do Rio, foi um sucesso que se repetiu durante vários anos.

Mas coisas estranhas se passavam. Dentro do próprio Jornal do Brasil havia resistências à prova, por parte até de uma executiva da empresa, Maria Regina, que era simplesmente a filha do dono do jornal, Manoel Francisco do Nascimento Brito.

O Editor-Chefe do JB na época, cujo nome não recordo mas que já morreu, disse-me um dia que o esporte de maior crescimento no Brasil era o voleibol. Fiquei estupefato, pois ninguém precisaria ser um gênio para perceber que o voleibol, na época realmente muito popular no Brasil, era, assim como o futebol e o basquete, um esporte especialmente para ser assistido. Sim, sempre teríamos pessoas dispostas a participar de uma “pelada” de futebol, de basquete ou de voleibol. Mas o grande interesse mesmo estava em comparecer aos estádios e ginásios para assisti-lo.

A corrida de rua era um fenômeno totalmente diferente. Seu apelo estava em motivar as pessoas para sair de suas casas e fazer exatamente isto: correr, participar, ser parte de uma imensa festa.

É por isto que temos hoje Maratonas como a de Nova York, Londres, Berlim, Chicago, Tóquio botando dezenas de milhares de corredores nas ruas e só não põem mais porque simplesmente falta espaço físico nas cidades para permitir um número maior de inscritos.

Mesmo com inscrições caras, por volta dos 300 dólares, a procura por elas é tão grande que muita gente consegue entrar apenas por sorteio. A Maratona de Nova York injeta um bilhão de dólares na economia da cidade, que sai às ruas para uma gigantesca festa.

Isto me leva a pensar que se o Jornal do Brasil tivesse desistido de ser um jornal e resolvido simplesmente se transformar em uma empresa de corridas de rua, estaria hoje próspero e vigoroso, em vez de ter fechado e desaparecido.

Mas a cegueira e até desonestidade de um grupelho dentro do JB ligado à área de marketing e conhecido como “pronobis” (porque seus integrantes sempre queriam um “por fora”) levou à minha saída do JB e, inevitavelmente, à morte de sua Maratona.

Fui para o Jornal dos Sports e, um dia, quando eu lá estava, recebi um telefonema da secretária do filho do dr. Brito, José Antonio, conhecido como Josa, o principal executivo da empresa. Era uma sexta-feira. Ele estava em Portugal mas chegaria ao Rio no fim de semana e queria marcar uma reunião comigo para a segunda-feira.

Na segunda-feira, outro telefonema, da mesma secretária: infelizmente a reunião tinha sido cancelada.

Parece que acontecera uma briga na família e Josa saíra perdendo. A Maratona do Jornal do Brasil também perdeu, pois, entregue à turminha do “pronobis”, simplesmente deu com os burros n’água. Murchou e sumiu.

Àquela altura eu já tinha decidido emigrar para os Estados Unidos. Foi o que fiz, depois de, ainda pelo Jornal dos Sports, cobrir a Copa do Mundo de 1990 na Itália e dirigir mais uma outra Maratona do Rio, esta pelo jornal O Dia.

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How Jornal do Brasil threw away the Rio de Janeiro Marathon

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