Carter, o Brasil e as torturas
No dia 1 de abril de 1978 eu estava com a Seleção Brasileira em Paris, para um jogo amistoso contra a França, dentro do programa de preparação para a Copa do Mundo daquele ano, na Argentina, alguns meses depois.
Sem que eu soubesse e sem que a esmagadora maioria da população que, no Brasil, acompanhava naquele mesmo dia a partida pela televisão tampouco soubesse, ocorria um encontro furtivo, no aeroporto do Galeão, entre o então Presidente Jimmy Carter, dos Estados Unidos, e o arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns.
Eu narro o episódio em meu livro “Caminho do Mar”. Jimmy Carter se preocupava com as notícias que recebia dos abusos da ditadura brasileira e anteriormenre já enviara ao Brasil sua mulher, Rosalynn, em uma espécie de missão exploratória, por não confiar nas informações que recebia oficialmente.
Agora, em pessoa, Jimmy Carter se reunira com o então Presidente, Enesto Geisel, em Brasíla, para manifestar sua desaprovação ao acordo Brasil-Alemanha Ocidental para a construção de usinas nucleares em Angra dos Reis. Ele achava que era um perigo para a proliferação de armas nucleares.
Discordei da posição de Jimmy Carter naquela ocasião, como ainda discordo. Mas sua rápida reunião com D. Paulo Evaristo Arns era para algo ainda mais importante para ele: os direitos humanos. Foi quando recebeu do arcebispo paulista um relatório sobre os casos de tortura e morte no Brasil, como os ocorridos com o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manuel Fiel Filho.
E o objetivo principal de sua viagem era exatamene para receber um relatório desses e de outros casos.
Se as relações entre Brasil e Estados Unidos já eram ruins, pior ainda ficaram depois daquele encontro.
Carter se opunha aos excessos das ditaturas sul-americanas da época, não apenas a brasileira.
Tal política foi alterada depois que o republicano Ronald Reagan foi eleito para a presidência dos Estados Unidos.