Bobby Moore e o estranho caso da pulseira
Talvez Sherlock Holmes devesse ter sido chamado para elucidar o caso. Ocorreu em Bogotá, Colômbia, em 1970, pouco antes do início da Copa do Mundo daquele ano, no México.
A seleção inglesa, então campeã do mundo, empreendera uma mini-excursão à Colômbia e ao Equador. A intenção era (como foi) de disputar dois amistosos contra as seleções locais, para adaptar os jogadores à altitude e ao calor que eles encontrariam no México.
Foi então que aconteceu o estranho caso: Bobby Moore, o capitão da selecão inglesa, foi acusado de roubar uma pulseira de esmeraldas, na loja do hotel, o Tequendama, em que a equipe estava hospedada, em Bogotá.
Naqueles tempos mais simples, as selecões dividiam hotéis com hóspedes comuns e eu, que trabalhava no Jornal do Brasil, era um deles. Não apenas eu mas praticamente todo os jornalistas ingleses que acompahavam a seleção também estavam estava lá.
Tempos mesmo simples em que era comum você estar à noite no bar do hotel tomando uns uísques com jornalistas ingleses e aparecer um dos jogadores do “England Team”, sentar-se à mesa e também entrar nas libações.
Um deles era o próprio Moore, que era amigo de jornalistas britânicos de que eu também era amigo, como Hugh McIlvanney e Jeff Powell, entre outros.
No andar térreo, havia uma joalheria, “Fuego Verde”. E foi lá que Moore, que estava acompanhado por outro famoso jogador inglês, Bobby Charlton, foi acusado de roubar o bracelete.
O escândalo foi imenso e, cá para nós, jamais esclarecido. Para resumir uma longa história, Bobby Moore foi preso, depois liberado, viajou para a partida em Quito, no Equador, e, na volta, quando o avião da selecão inglesa fez uma escala em Bogotá, preso de novo. Depois de muitas especulacões, acusações, investigações, foi posto em liberdade por um juiz colombiano e desembarcou no México três dias antes do início da Copa.
Jeff Powell, que, ao que eu saiba, ainda está vivo, escreveria mais tarde em um livro que o episódio tinha sido uma “peça”, uma espécie de travessura, de brincadeira, que não tinha realmente havido a intenção de roubar o bracelete, avaliado em 600 libras esterlinas, equivalentes hoje a cerca de R$ 4.500.00.
Nenhuma fortuna, é certo, e mesmo naquela época em que os salários dos jogadores eram muito mais baixos do que atualmente, ninguém poderia duvidar que Bobby Moore tinha uma situação econômica mais do que suficiente para pagar a quantia devida.
Mas eis um aspecto interessante: até hoje, ao que eu saiba, a tal pulseira nunca foi achada. Uma mulher que trabalhava na loja, Clara Padilla, chamou a polícia dizendo que viu Bobbo Moore colocá-la no bolso de seu agasalho e sair da loja. Moore retrucou dizendo que seu agasalho não tinha bolso.
Bobby Moore morreu em 1993, ainda moço. Sua acusadora morreu no último mês de fevereiro mas antes deu uma entrevista a um “podcast” colombiano reiterando que viu Bobby Moore levar a pulseira.
O inegável é que houve uma pressão tão grande do governo britânico sobre o colombiano e, deste, sobre o juiz em cujas mãos o processo foi parar, que descobrir o que realmente acontecera passou a ser menos importante do que encerrar o caso e deixar Moore viajar para o México. Naquela ocasião a Colômbia era candidata a sediar a Copa do Mundo de 1986 (que acabou sendo realizada de novo no México) e seus dirigentes esportivos estavam interessados em evitar “turbulências”.
Então houve um final feliz? Para a acusadora, Clara Padilla, não. Ela passou a receber ameaças de morte e acabou emigrando para os Estados Unidos. Mas morreu jurando que viu Bobby Moore roubar a pulseira.